Vivendo no escuro
PublishNews, Redação, 07/04/2020
Obra de Javier Marías aborda os dilemas morais de se levar uma vida dupla e as marcas que isso pode deixar na intimidade de um casal

Berta Isla e Tom Nevinson não passavam de adolescentes quando se conheceram e se apaixonaram. Em 1974, poucos anos depois das primeiras trocas de olhares no colégio madrilenho, já eram marido e mulher. Berta não sabia, mas Tom — filho de pai inglês e mãe espanhola, fluente em várias línguas e capaz de imitar sotaques e dicções com perfeição — fora recrutado para o serviço secreto britânico pouco antes do casamento. Tom engana Berta como pode, até que um incidente o obriga a revelar a atividade a que dedica boa parte dos dias. A regra, acatada por ela ao descobrir que o marido é um espião, e que deve valer por toda uma vida, é não fazer perguntas. Berta concorda, assim, em ignorar metade da existência de Tom, o que inclui a natureza de seus atos e os lugares por onde ele andou. O quanto ainda há em Tom daquele adolescente que Berta conheceu e por quem se apaixonou? Javier Marías retorna, em Berta Isla (Companhia das Letras, 552 pp, R$ 89,90 – Trad.: Eduardo Brandão), ao tema da espionagem, eixo da trilogia Seu rosto amanhã, e disseca não apenas os perigos e dilemas morais de se levar uma vida dupla, mas as marcas que as zonas de sombra podem deixar no afeto e na intimidade.

[07/04/2020 07:00:00]