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Diários de Abu Dhabi: A chegada ao mundo árabe
PublishNews, Paula Cajaty*, 26/04/2018
Paula Cajaty é nossa correspondente na Feira do Livro de Abu Dhabi. Nesse diário, ela conta seu dia a dia no evento e as maravilhas do mundo árabe

É depois de uma viagem longa e com muitas surpresas que chegamos a Abu Dhabi. O voo é da Fly Emirates e isso já faz uma diferença essencial quando se tratam de 14 horas dentro de um avião. Tanto as instalações físicas, como a comida e o atendimento dos comissários de bordo são impecáveis, o que nos permite aterrissar inteiros.

Ao chegar em Dubai, o aeroporto é enorme, o que nos obriga a caminhar muito até finalmente à saída. Lá nos espera o carro para a curta viagem a Abu Dhabi, onde dali a poucas horas se iniciaria a Abu Dhabi International Book Fair 2018.

A primeira surpresa é engraçada e evidencia as grandes diferenças que fazem do Oriente Médio um lugar peculiar e único: o responsável pelo transporte nos pergunta - a mim e à Mariana, da equipe da Libre, seguindo para a mesma cidade - se desejamos ir em carros separados.

Dispensamos a cortesia do carro exclusivo e fomos juntas (talvez uma economia desnecessária aos olhos árabes) durante mais 1h30 rumo a Abu Dhabi, em um carro a 150km/h (ou mais), dirigido por um paquistanês simpático que nos contou um pouco da questão dos Emirados Árabes Unidos (EAU) com a imigração.

Depois de dormir às 2h30 da manhã, foi necessário estar presente e às ordens antes da abertura da Feira, às 8h30, para organizar o material no estande, o que foi feito rapidamente.

Algumas questōes mais prosaicas, relativas à acomodação, entrega de credenciais, busca pela programação do evento, bem como a localização dos responsáveis pelo convite da Libre para esta bela Feira Internacional (que existe desde 1982 e se autoproclama a "feira de livros melhor organizada profissionalmente, mais ambiciosa e de crescimento mais rápido no Oriente Médio e Norte da África") nos tomaram a parte inteira da manhã. Antes do almoço, também fizemos um breve tour pelo pavilhão da Feira, ambientando-nos com os espaços, principais estandes e locais das palestras.

A noticia boa é que não se faz necessário comprar "chip de dados", pois o acesso à internet é bom e farto: o sinal do Wi-Fi existe em todos os lugares, seja no hotel, como na Feira.

Paramos para o almoço e para finalmente descansarmos da estranha sensação de tontura causada pelo enorme deslocamento e uma certa desidratação (aqui é bem seco para o padrão brasileiro). Depois, com energias renovadas, retornamos ao estande da Libre para realizarmos encontros e estarmos disponíveis aos visitantes. Entre as 15h e 19h, quando o movimento começou a reduzir, conhecemos a equipe do "Literatura Sem Fronteiras", muito interessados no mercado editorial brasileiro. Estavam lá o representante da APNET, uma federação africana que congrega associações de editores de 42 países do continente, organizadores da Feira de Livros da Polônia, ilustradores árabes e não-árabes, assim como representantes de diversas editoras da Síria, Letônia, Líbano, entre outros países que comumente não são traduzidos para o Brasil.

Tiramos um tempo breve, essencial para fazer contato pessoal com os representantes da Feira, e agradecermos o honroso convite. Finalizamos o dia com uma apresentação de um editor-ilustrador português que palestrou sobre os desafios da produção editorial em um país de pequenas proporções e pouco fluxo financeiro. O jantar, chamado "The Gala Dinner", a partir das 21h, estava lotado e não oferecia bebidas alcoólicas - mas o tabule era um dos melhores que já provamos.

Aqui nas Arábias, tudo é excessivo: sinais do luxo estão por todo lado, como nos pratos em que a comida sobra quase toda (é feio comer tudo que está no prato), nos livros sempre com encadernações luxuosas e muito hot-stamping dourado, nas enormes tâmaras disponíveis próximas dos bules de café com cardamomo e açafrão, nas bolsas e adereços das mulheres árabes (as poucas coisas que ficam por fora da roupa preta). Interessante também notar a quantidade de títulos sobre o Sheik, reconhecido por todos como um líder mundial, que é também um líder religioso e um dos homens mais ricos do mundo.

Outras surpresas também podem ser desconcertantes, como no estranho momento em que observamos a cena de uma mulher árabe a entrar em um elevador que já traz um homem árabe: ela entra e se vira de costas imediatamente, ficando de frente para a parede do elevador, como numa espécie de timidez ou temor reverencial.

Particularmente, evitamos olhar para todos eles no rosto, tirar fotos em que apareçam árabes de perto, e também não estendemos as mãos - dita a etiqueta local que é preciso que eles estendam a mão antes. A simpatia, aqui, é muitas vezes confundida com falta de respeito e a cordialidade é de um formalismo extremo.

Amanhã traremos mais notícias da presença brasileira neste excêntrico e desconhecido mundo editorial árabe.

Al Salam Alaikum!

Veja abaixo alguns cliques do primeiro dia de Paula na Feira de Abu Dhabi

Paula Cajaty e Mariana Warth na Feira do Livro de Abu Dhabi
Paula Cajaty e Mariana Warth na Feira do Livro de Abu Dhabi


* Paula Cajaty é editora da brasileira Jaguatirica e da portuguesa Gato Bravo, escritora e Diretora de Comunicação da Libre. Junto com Mariana Warth, Paula participa da Feira Internacional de Abu Dhabi à convite da organização da Feira, com apoio da Nuvem de livros.

[26/04/2018 08:00:00]
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