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Deixei a objetividade de lado para comentar a entrevista do Charles Cosac à Veja
PublishNews, Leonardo Neto, 07/12/2016
Na tentativa de 'desmentir' o que o PN publicou, ex-editor reafirma tudo o que nós noticiamos

Agora, em dezembro, faz três anos que eu assumi como editor do PublishNews. Nesse período, nunca escrevi uma única nota em primeira pessoa do singular. Não faz muito meu estilo, não acho condizente com a busca pela “objetividade” pe(r)dida pelo jornalismo, mas hoje resolvi abrir uma exceção. Em setembro passado, eu passei mais de uma semana atrás de uma história: a Cosac Naify estaria prestes a destruir o que restava em seus estoques. Liguei para diversas pessoas para conferir a veracidade dos fatos até chegar a Dione Oliveira, diretor financeiro da editora. Dione e eu conversamos por muito tempo (quem me conhece sabe da minha ojeriza por telefones). Quando desliguei o telefone, vi que tinha ali uma história. O diretor financeiro da editora confirmou oficialmente o que outras pessoas já tinham me dito extraoficialmente: o que estiver nos estoques da editora no dia 31 de dezembro vai virar aparas.

Na confecção da matéria, tentei ser novamente o mais objetivo possível, embora, estivesse pessoalmente triste pela situação. Me coloquei como missão apresentar a história sem, em momento algum, julgar a Cosac nem como vilã e nem como vítima daquela situação.

Ontem, ao ler a entrevista que Charles Cosac concedeu à revista Veja, fiquei novamente triste ao perceber que a missão que eu dei a mim mesmo falhou. É impressionante perceber o abismo que há entre o que a gente escreve e como as pessoas leem. Charles dá a entender que nós noticiamos que ele queimaria livros. Daí parei, pensei, procurei na memória essa palavra e não a encontrei, mas como sei que não posso muito confiar na minha memória, busquei a matéria que publiquei em setembro e aqui faço a você um desafio: procure você também o verbo queimar ou o substantivo fogo na matéria que pode ser acessada nesse link.

Mais curioso é que notei é que Charles “desmentiu” a informação reafirmando tudo o que está no meu texto. Ele disse, se referindo a Nelson Cruz, ilustrador que, nas suspeitas de Charles – não sei de onde ele tirou essa informação, a propósito – teria me cantado a bola em uma “feira de literatura”: “Eu não queimaria o livro dele. Eu picotaria”. Na minha matéria, está escrito: “quando chegar o último dia de 2016, a Cosac Naify não deverá ter mais nenhum livro em seus estoques. Os que sobrarem até lá serão transformados em aparas”. Para quem conhece minimamente a língua portuguesa vai perceber que estamos falando exatamente a mesma coisa.

Essa não foi a primeira vez que a direção da Cosac tenta desqualificar a matéria. Em entrevista à GloboNews, Dione fala: “o que eu coloquei a ele [se referindo a mim] foi que havia opções da editora resolver o problema”. Sim... Essa informação também está na minha matéria.

Mesmo não atribuindo a mim, Charles, em sua entrevista à Veja, fala em má fé na transformação do fato em notícia. Ora, denegrir a reputação de um veículo e de um profissional que agiu de forma legítima e correta não é uma forma de agir de má fé? Charles podia parar com isso. Não faz sentido. Na entrevista à Veja, ele mesmo reconhece que o barulho causado pela matéria foi benéfico à empresa que ele criou: “acabou ajudando, as vendas praticamente dobraram. Quando fechei a editora, o estoque era de 1,1 milhão de livros. Quando estourou a bomba do Nelson Cruz, eram 400 mil livros, agora são 200 mil. Com Black Friday e Natal, acaba. O remanescente, a própria Amazon vai querer reter”. Que bom, né, Charles. Precisando de ajuda novamente, conte conosco.

Tags: Cosac Naify
[07/12/2016 11:22:00]
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