Atentado à redação de jornal francês mata 12
PublishNews, Leonardo Neto, 08/01/2015
Alvos eram cartunistas que satirizaram o profeta Maomé

O mundo ainda está em choque depois do atentado que matou doze pessoas e deixou outras onze feridas na manhã desta quarta-feira (11), em Paris. O alvo dos terroristas era a redação do jornal Charlie Hebdo, semanário que, por vezes, satirizou o profeta Maomé, líder fundador do islamismo. Este foi o atentado com maior número de mortes na Europa desde 2005, quando aconteceu um ataque ao metrô e a um ônibus, em Londres, deixando 52 vítimas. Entre os mortos do ataque à Charlie Hebdo, estão quatro cartunistas (incluindo o diretor do jornal, Stéphane Charbonnier (o Charb), e Georges Wolinski, expoente do gênero no país. Testemunhas contam que, depois do ataque, os atiradores gritaram "Nós vingamos o profeta Maomé". De acordo com os jornais franceses, o jornal vinha sofrendo ameaças desde 2006, quando passou a publicar cartuns do profeta fundador do islamismo.

Repercussão

No mundo todo, líderes religiosos e políticos prestaram solidariedade às vítimas e defenderam a liberdade de expressão e de imprensa. Milhares de pessoas saíram às ruas de Paris com cartazes onde se lia “Je suis Charlie” (Eu sou Charlie), que logo tornou-se o emblema do luto, estampando sites, jornais e posts nas redes sociais. A Associação Internacional dos Editores (IPA) publicou nota dizendo que o ataque à redação francesa é, na verdade, um ataque aos valores comuns aos editores. Assem Shalaby, presidente da Associação de Editores Árabes, condenou: "este ataque perverso é contrário aos princípios do Islã e à mensagem de seu profeta". "Este é um horrível crime cometido contra a humanidade, a liberdade de expressão, o Islã e os muçulmanos", disse Ibrahim El Moallem, presidente da Dar El Shorouk, a maior editora de livros árabe. Vincent Montagne, presidente da Associação dos Editores Franceses (SNE), declarou que "estamos profundamente chocados com o ataque assassino contra os autores, jornalistas e cartunistas. Barbárie e fanatismo não terão a palavra final". Por aqui, a CBL, disse que “repudia qualquer ato contra a liberdade de expressão, em especial ações de tamanha violência e intolerância”. A Associação dos Cartunistas do Brasil (ACB) repudiou o ato e lembra que “o desenhista é justamente o artista que busca a defesa dos mais fracos e oprimidos, desde que as charges começaram há 200 anos. A palavra ‘charge’ é francesa e significa ‘carga’, por ser sempre uma carga crítica aos governos e dogmas que mancham os direitos humanos e a livre expressão”.

O Conselho Consultivo do Salão de Humor de Piracicaba também se manifestou dizendo, em nota, que “o humor gráfico tem como traço principal a sua não subserviência contra quaisquer tipos de ditadura, sejam políticas, militares ou religiosas” e lembra ainda que, por ocasião dos 40 anos do Salão, foi lançado o livro Balas não matam ideias. “Nunca o título daquele livro esteve tão atual”, diz a nota assinada por Adolpho Queiroz, presidente do conselho. Também em nota, o cartunista Mauricio de Sousa lembrou que a liberdade de expressão está de luto e observou a importância de seu colega Wolinski, “considerado um dos maiores cartunistas do mundo, que com seu traço descontraído e humor irreverente, influenciou um bom número de artistas brasileiros”.

[08/01/2015 01:00:00]