RIO — Hugo Germano abre o livro na página 73 e mostra, orgulhoso, o conto “Assassino noturno” publicado no anuário da Festa Literária Internacional das Periferias (Flupp) do ano passado.
— Esse aqui fui eu que escrevi — diz, antes de abrir o sorrisão. — Depois que descobri que eu era capaz de escrever, todo dia tenho ideias.
A descoberta a que Hugo se refere veio depois de frequentar uma oficina de leitura, em 2012, na favela do Cantagalo. Nas aulas, o professor notou a dificuldade dele em entender o que lia. Hugo conta que era analfabeto funcional — conseguia ler, mas não tinha capacidade de compreender textos:
— Não conseguia entender porque nunca tinha lido um livro na vida. O professor, na época, sugeriu que eu fosse à Flupp, que estava ocorrendo no Morro dos Prazeres. Saí de lá com vários livros doados — relembra Hugo.
Agatha Christie, Clarice Lispector, H.G. Wells foram alguns do autores que Hugo começou a conhecer. Em pouco mais de seis meses, 14 obras foram lidas. O passo seguinte foi começar a escrever.
— A leitura foi essencial para que eu começasse a melhorar o texto. Eu continuei fazendo oficinas e fui aprendendo a escrever com os autores que eu lia. Foi um honra publicar um conto no livro da Flupp. Analfabetismo é coisa do passado — afirma Hugo.
Terminada ontem a 3ª edição do evento, a Flupp este ano ocorreu na favela da Mangueira e atraiu cerca de 20 mil visitantes nos cinco dias de programação. O político e ativista brasileiro Abdias do Nascimento foi o autor homenageado.
— O evento foi um sucesso. Mês que vem já iniciaremos o planejamento da edição de 2015 — diz Julio Ludemir, organizador da Flupp.