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O efeito sombrio da espionagem americana
PublishNews, Iona Teixeira Stevens, 21/11/2013
Estudo da PEN America mostra que escritores nunca estiveram tão preocupados com a liberdade de expressão

As denúncias de Edward Snowden sobre a espionagem na internet da Agência Nacional de Segurança (NSA), nos Estados Unidos, vêm afetando pontualmente o mercado editorial, seja no aumento de vendas do livro de George Orwell ou com novos títulos sobre o escândalo. Mas uma pesquisa da PEN American Center, organização que publica a revista homônima e tem como causa o apoio à diversidade e liberdade na literatura, mostrou que a revelação dessa faceta do governo americano está afetando a literatura no seu ponto mais essencial: os autores.

Em uma época onde as portas do mercado editorial foram escancaradas pelo e-book para todo tipo de escritor (resultando inclusive em problemas com conteúdo ofensivo), a PEN America publicou o relatório Chilling Effects: NSA Surveillance drives US writers to self-censor [‘Efeitos sombrios: a vigilância da NSA leva autores americanos a se autocensurarem’, em tradução livre] e mostra que esse aumento de liberdade para publicar vem com um cerceamento inoportuno.

A PEN, junto com o grupo FDR, entrevistou 520 escritores americanos. Segundo o documento, a maioria dos escritores assume agora que está sendo monitorado, e mostra também que 85% dos autores questionados se preocupam, e muito, com a vigilância da NSA, e muitos afirmam que isso afeta a sua capacidade de escrever e publicar livremente.

24% dos autores questionados afirmaram evitar escrever em email ou falar por telefone sobre assuntos que os colocariam sob o radar da agência; 16% evitaram escrever ou falar sobre um assunto específico; 16% evitaram conduzir pesquisas na internet ou visitar sites de assuntos considerados controversos ou suspeitos; 28% reduziram ou passaram a evitar atividades de mídia social e 13% tomaram medidas para esconder as pegadas digitais.

A preocupação afeta mais escritores de não ficção, por causa da necessidade de proteger as fontes e dos assuntos polêmicos tratados, como o Oriente Médio, a Guerra no Iraque, o caso Snowden, o movimento Occupy e até a Guerra Fria, entre outros assuntos citados nos depoimentos do relatório. “Como escritor e jornalista que aborda o Oriente Médio e particularmente a Guerra no Iraque, suspeito que esteja sendo monitorado. Como escritor que expôs a violência sexual nas forças militares, e que fala abertamente sobre isso, também”, conta um dos relatos.

A pesquisa segue com mais exemplos de autores que abandonaram histórias e projetos de livros por medo, e de autocensura até em conversas por Skype: “Quando estava preparando o evento de Tradução do festival World Voices [do PEN], liguei para um amigo, um escritor palestino, por Skype. Eu queria falar sobre política, mas deliberadamente evitei o assunto porque imaginei que a conversa estava sendo monitorada. Normalmente não teria evitado, mas me preocupei com ele, imaginando que um comentário controverso dificultaria suas viagens”. Os efeitos dessa controvérsia chegaram ao Brasil pelo biógrafo Laurence Bergreen, que citou o estudo em entrevista à Folha na semana passada, ressaltando também sua preocupação.

[21/11/2013 01:00:00]
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