Colômbia, país digital
PublishNews, 04/07/2013
A partir de 2000 propostas enviadas via web, a Colômbia apresentou o Vive Digital, um plano que colocaria em marcha uma transformação profunda no ecossistema tecnológico nacional

Na última década, a maioria dos países latino-americanos experimentou um crescimento econômico consistente. A Colômbia tem sido talvez um dos exemplos mais evidentes, com um PIB que pulou de 98 bilhões de dólares em 2001 a mais de 333 bilhões em 2011, segundo dados do Banco Mundial.

O específico do caso colombiano é que boa parte dos lucros do crescimento foram destinados a consolidar a infraestrutura tecnológica para reduzir a divisão digital e criar empregos qualificados. Em outubro de 2010, a partir de um rascunho de 2000 propostas enviadas via web por quase 6.000 cidadãos, a Colômbia apresentou Vive Digital, um plano que colocaria em marcha uma transformação profunda no ecossistema tecnológico nacional, das startups até o governo eletrônico e o banco móvel. A seguir vamos expor os eixos centrais do programa, que enfocou nas melhorias de infraestrutura, conteúdos e recursos humanos. As mudanças são consideráveis e a indústria do livro já começa a colher os primeiros frutos.

A infraestrutura

>Um aspecto chave de Vive Digital está relacionado com a ampliação da capacidade tecnológica. O programa colocou em 2010 o objetivo de multiplicar por 4 o número de conexões à Internet (de 2,2 a 8,8 milhões) até o ano de 2014 e alcançar 50% de acesso tanto em lares como em pequenas e médias empresas (que, no começo do programa rondavam 27% e 7%, respectivamente). Até o final de 2012, o número total de conexões já superava os 6 milhões, com 40% do lares e 20% das pequenas e médias empresas com previsão de acesso. O aumento foi explicado, entre outros fatores, pelas diferentes ajudas destinadas a cerca de um milhão de famílias e à instalação de mais de 1000 Kioscos Vive Digital – centros de acesso pensados para povoados rurais.

Em meados de 2014, será realizado um leilão público de espectro radioelétrico que abrirá as portas ao serviço 4G. Segundo o ministro de Tecnologia da Informação e Comunicação, Diego Molano Vedia, a tecnologia 4G será chave porque “permitirá levar a Internet aos mais pobres”.

Por outro lado, através de um esforço conjunto do Estado nacional e das autoridades regionais, a Colômbia começou a maior entrega de dispositivos na história do país: 577.000 computadores e 77.000 tablets, destinados às escolas públicas.

Os conteúdos

Conscientes de que a infraestrutura por si só é vazia, os diferentes níveis do Estado colombiano optaram por estimular a produção de conteúdos adaptados à nova era. A iniciativa Apps.co – realizada pelo Ministério de Tecnologia da Informação e Comunicação (MinTIC) e o Ministério de Comunicação – visa fortalecer os negócios baseados em aplicativos e conteúdos interativos. Como descreve Claudia Obando, líder do programa, somente no primeiro ano, uns 500 projetos de aplicativos alcançaram a fase de desenvolvimento (nesta lista casos destacados podem ser consultados).

Em agosto de 2012, o MinTIC uniu forças com o Ministério de Cultura para lançar Crea Digital: uma convocatória nacional que premiou os melhores projetos de e-books, animação e videogames apresentados por pequenas e médias empresas nacionais. Seu objetivo: “dotar a comunidade de conteúdos culturais educativos, assim como fortalecer a indústria de conteúdos digitais

A visão é que cada região do país consiga desenvolver sua potencialidade para oferecer um valor diferenciado. Assim explica Jorge Restrepo, Gerente de Conteúdos Digitais do MinTIC: “Não será uma única oferta colombiana, mas as regiões terão especialidades. E já estamos vendo isso. No caso de Popayán, estão focando nas aplicações móveis; Cali, por outro lado, sempre teve uma vocação mais audiovisual.”

A Biblioteca Nacional da Colômbia, por sua parte, desenvolve um ambicioso plano ao redor dos conteúdos online. Uma de suas principais metas é alcançar uma massa crítica de 28 milhões de páginas eletrônicas, marco que acelerará a conformação de novas audiências. Para isso, a instituição incorporou infraestrutura de última geração e colocou em marcha um laboratório de experimentação, investigação e capacitação em novas tecnologias.

Os recursos humanos

Certamente, a formação dos futuros produtores e criadores ocupa um lugar central. O MinTIC propiciou a instalação de 17 “ViveLabs” em todo o país: são centros destinados à capacitação e ao desenvolvimento de animação 3D, 2D, videogames, livros eletrônicos e aplicativos. Segundo María Carolina Hoyos, vice-ministra TIC, a iniciativa conseguirá formar mais de 15.000 pessoas em temas relacionados com conteúdos digitais.

Em uma linha similar, a convocatória Talento Digital procura incentivar a formação no uso das TIC, através de créditos para o estudo de matérias focadas no desenvolvimento de software e aplicações. No momento de explicar os objetivos da iniciativa, o ministro Molano Vega foi categórico: “Precisamos de aplicativos feitos por colombianos, para colombianos, que prestem serviços e incentivem o uso das TIC, e que por sua vez ajudem a gerar emprego e diminuir a pobreza”.

No marco da função pública, o plano Vive Digital inclui um programa batizado “Cidadania Digital”, criado pela Universidade de Educação à Distância (UNAD). Através de processos de formação virtual, avaliação e certificação, professores e servidores públicos adquirem competências que são decisivas para aumentar a produtividade do governo.

Se a capacitação é uma área chave, a vinculação profissional também desempenha um papel preponderante. Em outubro de 2012, aconteceu Colombia 3.0, um evento que reuniu empreendedores da animação, dos videogames, dos livros eletrônicos e outros setores relacionados com a era eletrônica. A participação de mais de 4.000 assistentes e 250 empresas tratou da efervescência que caracteriza a indústria.

Primeiros frutos na indústria editorial

As iniciativas descritas já estão produzindo efeitos – diretos ou indiretos – no setor editorial. Iván Correa – que ao fundar o selo E-Libros realizou um giro copernicano em seu modo de trabalho, pois migrou do mundo do papel ao eletrônico – reconhece claramente a contribuição que para ele significou os programas de estímulo à cultura digital. Em junho de 2013, o projeto de Correa foi realçado pela revista Publishing Perspectives como um case inovador.

Entre os autores, também é possível notar um maior desejo de experimentar com modalidades eletrônicas. A destacada escritora Alejandra Jaramillo, por exemplo, publicou recentemente uma obra digital cujas características técnicas e narrativas desafiam os moldes tradicionais, e teve uma acolhida muito favorável – talvez um sinal de que a atitude frente a novas tecnologias mudou radicalmente.

A Colômbia se posiciona assim como um ator protagonista na América Latina, tanto em relação à produção quanto ao consumo de conteúdos digitais. Os avanços na redução da divisão digital que assinalamos poderão servir de referência a outros países em desenvolvimento, no momento em que as explorações eletrônicas realizadas pelos editores e os escritores colombianos abrirão um antecedente muito valioso para empreendedores de toda a região.

[03/07/2013 21:00:00]