Com e-book exclusivo na Amazon, Paulo Coelho prefere o Nook
PublishNews, Carlo Carrenho, 07/12/2012
O escritor utiliza o aparelho da Barnes & Noble para leituras digitais

A recém-inaugurada loja brasileira da Amazon possui livros em caráter de exclusividade digital de quatro autores: Vinicius de Moraes, Nelson Rodrigues, Jeff Kinney e Paulo Coelho. Entre estes, apenas o autor de O Alquimista poderia ler seu próprio livro exclusivo em edição digital, uma vez que os dois primeiros já não estão entre nós – e a Amazon ainda não revelou planos de abrir uma loja para clientes post mortem, mas como eles nunca falam de planos futuros, vai saber... – e o terceiro autor, americano, não lê em português. Ainda assim, é provável que, enquanto O Livro dos Manuais permanecer exclusivo da Amazon, Paulo Coelho não vá lê-lo por uma simples razão: o escritor de maior sucesso comercial utiliza um leitor Nook, da Barnes & Noble, para suas leituras digitais.

Sobre a chegada das ebookstores estrangeiras ao Brasil e o crescimento local do mercado digital, Paulo Coelho mantém uma opinião bastante otimista. “É algo não só positivo, mas inevitável. O Brasil resistiu enquanto podia, já que os editores viam o livro digital como uma ameaça. Mas trata-se de algo que ajuda escritores e autores”, declarou Paulo Coelho em entrevista exclusiva ao PublishNews. “Vou dar um exemplo: imagine que uma pessoa no Gabão queira ler meu livro em português. Graças a plataformas digitais como a do Kindle, da iBookstore e de outros, ela terá acesso à minha obra.”

Paulo Coelho dedicou-se ao longo dos últimos anos a comprar os direitos digitais de suas traduções em espanhol, francês e alemão. Além disso, ele tem mantido os direitos digitais de suas obras na língua pátria, e comercializa todos estes livros em acordos diretos com as grandes lojas e distribuidoras de livros digitais no mundo. “Não foi apenas uma experiência. Eu acreditava muito que os leitores em português fora do Brasil ou de outras línguas fora dos principais países que as falam devessem ter acesso aos livros”, disse Coelho para explicar a razão que o levou a distribuir ele mesmo seus livros digitais. Em um primeiro momento, poderia parecer que o escritor radicado na Suíça já não acredita no papel do editor nesta nova era do acesso digital, mas nada poderia estar mais longe da verdade. “Acredito no negócio e no sistema do livro. Os autores não têm condições de fazer tudo e vão deixar de ser escritores se abrirem mão do editor. Vão perder um tempo imenso para ganhar migalhas”, declarou. “Teoricamente, eu até poderia prescindir de uma editora no Brasil, mas isto seria uma besteira sem tamanho, que não levaria a lugar nenhum. O editor é fundamental”, continuou.

Paulo Coelho também lembrou a importância das livrarias. “[As lojas nos] tablets não são como livrarias físicas porque não se vê os livros, você não tem a sensação da visão”, explicou, lembrando o papel da descoberta das livrarias. “O tablet nunca substituirá a livraria física”, profetizou.

A exclusividade do Livro dos Manuais na Amazon foi negociada pelos agentes do autor, e o livro está sendo vendido com grande desconto por apenas R$ 2,99. Paulo Coelho lembra, no entanto, que apesar de controlar a publicação digital de várias de suas obras, ele mantém uma boa relação com seus editores e faz acordos de cavalheiro com eles. “A edição digital de Manuscrito Encontrado em Accra só foi lançada no Brasil em dezembro, bem depois dos outros países, pois eu tinha um acordo com a editora”, comentou – neste caso, a editora é a Sextante.

Sobre os aparelhos de leitura, Coelho só tem elogios ao Nook, da Barnes & Noble. “O Nook é mais eficiente, gosto demais, é leve, gostoso”, explicou. Recentemente, um iPad Mini também chegou às mãos do escritor. “Este novo iPad vai ser um e-reader. Agora é leve”, previu Coelho. Mas quando perguntado sobre seu leitor eletrônico preferido, Paulo Coelho não titubeou. “Quando viajo, gosto de ler no Nook, mas por uma razão bastante prática”, respondeu, deixando um suspense no ar. “Como moro na Europa e o catálogo do Nook não está disponível para compras por aqui, me deram um crédito de 600 dólares que ainda não terminei de gastar”, explicou, desfazendo o mistério. E talvez esta seja mais uma prova que o preço do leitor, que a Kobo já vende a R$ 399 e a Amazon venderá a R$ 299, seja de fato fundamental na disputa do mercado digital brasileiro.

[07/12/2012 01:00:00]