Penguin compra 45% da Companhia das Letras
PublishNews, Roberta Campassi, 05/12/2011
O negócio coloca a editora brasileira em posição de vantagem para expandir seu catálogo e avançar no mercado de publicações digitais

Numa movimentação inédita na história da Penguin e no mercado editorial do Brasil, a editora inglesa adquiriu 45% da Companhia das Letras, por um valor não divulgado. O negócio coloca a editora brasileira em posição de vantagem para expandir seu catálogo e avançar no mercado de publicações digitais. Ao mesmo tempo, fortalece o grupo Pearson no país, que é não apenas dono da Penguin como também o maior do mundo em serviços educacionais.

Esta é a primeira vez que uma editora anglo-saxã adquire parte de uma editora nacional de livros gerais. E é também a primeira vez que a Penguin investe numa editora que não está no mercado de língua inglesa.

Os fundadores da Companhia das Letras continuarão no controle da empresa, por meio de uma holding que deterá 55% da participação na sociedade com a Penguin. Luiz Schwarcz e Lilia Moritz Schwarcz terão aproximadamente dois terços dessa holding, enquanto Fernando Moreira Salles ficará com o terço restante. Segundo Luiz Schwarcz, presidente da Companhia das Letras, Elisa Braga e Maria Emília Bender, ambas diretoras da Companhia, venderam as participações minoritárias que detinham na editora, mas permanecem em seus cargos.

A sociedade entre as duas editoras ocorre quase dois anos após elas terem se unido numa parceira para formar o selo Penguin Companhia, que publica obras clássicas do catálogo de ambas. A compra também acontece pouco mais de um ano após a Pearson ter desembolsado 326 milhões de libras para adquirir os sistemas de ensino da SEB no Brasil – Dom Bosco, Pueri Domus e COC – e, dessa forma, ter se tornado uma das principais empresas educacionais do país.

Durante anúncio para a imprensa, hoje de manhã, Schwarcz afirmou que a sociedade com a Penguin vai ampliar o acesso da editora aos títulos publicados pelos vários selos da editora inglesa e possibilitar vários “privilégios no caminho da digitalização”. “A Penguin é a editora mais tradicional em termos de publicação literária, e a mais moderna em termos de administração e tecnologia”, disse. A sociedade, segundo ele, também será “um canal privilegiado para apresentar autores brasileiros” ao grupo inglês. “Esperamos que cresçam as possibilidades para a publicação lá fora de clássicos brasileiros e também de jovens autores”, disse.

Outra vantagem da sociedade é a sinergia com o mercado educacional. Até meados de 2010, a Pearson só trabalhava com livros de idiomas e universitários no Brasil, mas com a recente compra dos sistemas de ensino passou a ter produtos para todos os níveis educacionais. Na sociedade com a Companhia das Letras, tanto a Pearson deverá ter acesso aos autores da editora para o desenvolvimento de novos produtos, quanto a Companhia terá acesso aos canais de venda desenvolvidos pela Pearson com escolas – a empresa inglesa visita cerca de seis mil por ano no país.

John Makinson, principal executivo da Penguin, afirmou que a compra de participação na Companhia das Letras foi o primeiro investimento da editora, em seus 75 anos de história, numa empresa externa, que não faz parte integral do grupo, e num mercado que não é de língua inglesa. “Nossa filosofia é investir muito mais internamente, nos nossos profissionais, nos nossos autores. Então, por que investir na Companhia e por que no Brasil?” A resposta, segundo ele, é que o país apresenta inúmeras oportunidades de crescimento e tem um “dos marcados editoriais mais avançados e sofisticados do mundo”. “Brasil, Índia e China, esses são os mercados editoriais emergentes”, afirmou. O outro motivo, segundo ele, é o desenvolvimento natural da parceria com a Companhia das Letras. “Temos muitas afinidades e valores comuns.”

Segundo Makinson, a relação da Penguin com outras editoras brasileiras permanece a mesma. “Nada muda em relação aos direitos autorais vendidos para empresas brasileiras”, disse. Mas ele ressaltou, também, que é provável aumentar a venda de direitos para a Companhia das Letras. “À medida que vamos criando sinergia, esse é um caminho natural”. Schwarz ressaltou que “a sociedade tem que ser boa para as duas partes” e que, na venda de direitos da Penguin, não será dada preferência para a Companhia.

Schwarcz não deu detalhes sobre quais ações serão tomadas no segmento eletrônico a partir da nova sociedade, mas disse que Fabio Uehara, executivo responsável pela área digital da editora, já passou três dias na Penguin nos Estados Unidos aprendendo sobre como se faz a distribuição de e-books e sua promoção junto aos leitores, especialmente em redes sociais.

Segundo ele, também não há previsão de quanto o segmento escolar poderá representar para a Companhia das Letras nos próximos anos. “A adoção de nossos livros por parte de escolas sempre existiu, mas não dá para dizer quanto isso representa”, disse.

No ano que vem, a Companhia passa ganha novos nomes em seu catálogo de autores: Carlos Drummond de Andrade, Otto Lara Resende, Paulo Mendes Campos, Pedro Nava, além de Caio Prado Jr., que já começou a ter suas obras publicadas pela editora. Schwarcz sinalizou que pode haver tanto um trabalho para vender os direitos das obras à Penguin, quanto para criar subprodutos educacionais a partir deles.

Nos últimos anos, vários grupos editoriais estrangeiros têm investido no Brasil. O grupo espanhol Santillana, em 2001, comprou a Moderna, do segmento de didáticos, e também a Objetiva, na área de livros trade. A editora americana Thomas Nelson firmou há alguns anos uma joint-venture com a Ediouro, para publicar livros religiosos por aqui. Outras empresas como as portuguesas LeYa e Babel montaram operações próprias para livros gerais, sendo que a primeira investe também no segmento educacional. A espanhola SM também chegou ao Brasil com operação própria, em 2004, para explorar o mercado de livros didáticos. Nos últimos meses, a Oxford University Press, a maior editora universitária do mundo, começou a contratar profissionais do mercado para entrar no segmento de didáticos no país.

[05/12/2011 01:00:00]