Editorial Project Management é o título do livro de Barbara Horn que busca juntar o gerenciamento de projetos ao trabalho do departamento editorial. É um livro que me encantou logo de cara pelo título, porque nunca tinha visto nada que tratasse dos dois assuntos ao mesmo tempo. Quando vi que a edição original dele é de 2006 fiquei ainda mais otimista, imaginando que a autora ainda ia nos oferecer outras obras tão interessantes quanto, mas, se isso aconteceu, eu perdi. Porque até hoje não vi nada parecido.
Não, não, nem acho um superlivro. Gostaria mais se ele seguisse a metodologia do Project Management Institute, mas jamais soube qual metodologia ele segue. Na verdade, acho que ele segue a experiência da autora e usa alguns termos do gerenciamento profissional, como, por exemplo, “caminho crítico”, que nunca vi em nenhuma outra obra que seja ligada a “editorial”, “editora”, “livros” e afins.
Logo no início, em “Before you Begin”, a autora nos apresenta as responsabilidades dos gerentes de projeto editoriais e a primeira delas é: coordinating all the work on publication from receipt text, if not earlier, to publication. Eu conheço bem esse trabalho e, pra mim, ao menos no Rio, ele sempre foi de responsabilidade do assistente editorial, pois o editor cuida do nível acima disso (“gerente de programa” na terminologia PMI), é mais superficial e estratégico, cuidando de todos os livros de seu editorial como uma unidade e não de detalhes mais profundos de cada um.
O que não entra na minha cabeça é que, enquanto o gerente de projetos, para ser titulado Project Management Professional (PMP), precisa comprovar (além de terceiro grau completo) muitas horas de experiência prática em gerenciamento, fazer uma prova complicada e continuar fazendo cursos e mais cursos e provas e mais provas para não se desvalorizar, o assistente editorial quase sempre é um recém-formado em alguma área de humanas que jamais estudou qualquer coisa que tivesse a palavra “gerente”.
Sei que já falei sobre meu estranhamento em relação às grades de disciplinas das faculdades de produção editorial do país, mas aqui queria mostrar essa incongruência usando uma voz “de fora”. Não quero “falar mal” dessas faculdades, mesmo porque algumas são muito elogiadas, quero apenas tentar contribuir com elas expondo o lado do mercado, pois sei que a maior parte dos atuais estudantes serão os assistentes e editores de amanhã e o amanhã está nos aproximando cada vez mais das áreas tecnológicas, não apenas na forma de produção como na de gerenciamento dessa produção.
Por sua vez, o mercado editorial também tem uma maneira curiosa de entender seus assistentes editoriais. Quanto mais culto e poliglota, mais chances de crescer, mas no dia a dia as competências mais cobradas serão coisas como o gerenciamento de tempo, de risco, de escopo, de qualidade, de pessoas, de comunicação e de tudo mais que o PMI também considera fundamental.
Em suma, que tal um congresso PublishNews, SNEL, CBL, PMI e universidades?
Cindy Leopoldo é graduada em Letras pela UFRJ e pós-graduada em Gerenciamento de Projetos pela UFF. Em 2015, cursou o Yale Publishing Course e, em 2020, iniciou a especialização em Negócios Digitais, da Unicamp. Trabalha em editoras há uns 15 anos. Na Intrínseca, onde trabalhou por 7 anos, foi criadora e gerente do departamento de edições digitais e editora de livros nacionais. Atualmente, é editora de livros digitais da Globo Livros.
Escreve quinzenalmente, só que não, para o PublishNews. Sua coluna trata de mercado editorial, livros e leituras.
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** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.