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Zero, 35 anos
PublishNews, Redação, 04/10/2010
Romance proibido de Ignácio de Loyola Brandão ganha edição histórica, com lançamento nesta segunda-feira (4)

Para comemorar os 35 anos de Zero, romance proibido de Ignácio de Loyola Brandão que só foi liberado após o fim do regime militar, a Global apresenta hoje (4), às 19h, na Livraria Cultura Conjunto Nacional (Av. Paulista, 2073 -1º Andar - Bela Vista - São Paulo/SP), a edição comemorativa da obra. Com um projeto gráfico assinado pelos designers Eduardo Okuno e Mauricio Negro, Zero - 35 anos (Global, 390 pp., R$ 65) trará, ainda, as vinte capas de todas as edições publicadas no exterior e o making off da obra. São cem páginas a mais em que se relata como e por que Zero foi escrito, a sua trajetória internacional, a proibição, o sucesso, a sua estrutura diferenciada e seu impacto.

A ideia de escrever o livro surgiu nos anos 1960, tendo como ponto de partida um conto que descrevia a ida de um grupo de amigos a um lugarejo para conhecer um garoto que teria música na barriga escrito inicialmente para uma coletânea de contos com cenas do cotidiano, encomendada por Plínio Marcos, que nunca chegou a ser publicada.

Quando os militares tomaram o poder em 1964, os censores entraram em cena em todas as redações. Na época, Loyola, secretário gráfico do Última Hora, guardou tudo o que havia sido proibido. Até o dia em que se viu com milhares de páginas que mostravam um Brasil que o leitor jamais havia podido conhecer. Veio um dia a ideia de escrever Zero, contando em forma de livro tudo o que fora ocultado: a violência, a tortura, o esquadrão da morte, a sexualidade, a luta armada, a repressão, a dificuldade de viver uma vida sem liberdade.

O livro é, segundo a crítica, o que melhor descreve o que foram os nossos anos de chumbo. Sua primeira edição foi publicada na Itália em 1974 e somente no ano seguinte, no Brasil. Em julho de 1976 recebeu da Fundação Cultural do Distrito Federal o prêmio de Melhor Ficção. No dia 20 de novembro, foi censurado pelo Ministério da Justiça e sua venda, proibida em todo o território nacional por ser considerado um atentado à moral e aos bons costumes.

Sua proibição foi um dos estopins para que escritores e intelectuais começassem a se manifestar contra a ditadura militar. “O escritor - o artista, em suma - é a testemunha de seu tempo, da sua sociedade com tudo que ele tem de coisas boas e ruins. Principalmente ruins. Ele não pode cancelar uma realidade (pelo menos para ele), sob o pretexto de essa realidade ser inoportuna. Ou desagradável”. Assim falou Lygia Fagundes Telles, uma das líderes do movimento, em 3 de fevereiro de 1977, num ato público promovido pelo semanário Aqui São Paulo, do jornalista Samuel Wainer. Assim, Lygia assumia, com muita coragem, o papel social de artista.

Somente em 1979 o livro foi liberado pela censura. Desde então, foram dez edições vendidas no Brasil, além das traduções para o alemão, coreano, espanhol, húngaro, inglês e tcheco.
[04/10/2010 00:00:00]
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