“Tenha uma criança específica em mente quando for escrever”
PublishNews, Redação, 09/08/2010
Até o filho de Salman Rushdie, a quem seu novo livro é dedicado, foi chamado ao palco

Cada livro escrito por Salman Rushdie surge para ele de um jeito diferente. Ele soube de imediato o que seria o Luka e o fogo da vida (Companhia das Letras), mas a dificuldade foi decidir como contar e transformar isso em algo interessante para adultos e crianças. Ele lembrou que as grandes histórias infantis, como Alice no país das maravilhas e Peter Pan, foram escritas tendo em mente uma criança real. E é isso o que faz o livro funcionar, contou.

Luka, sobre um filho que salva a vida de uma pai e sobre como a imaginação pode guiar a vida de alguém, foi escrito para seu filho mais novo, Milan Luka, que o acompanhou em Paraty e até subiu ao palco e autografou o livro ao final da mesa “Em nome do filho”.

Durante sua participação, contou que Borges foi uma má influência. “Fiquei intoxicado quando conheci sua obra e cometi o erro de escrever como ele”. Mas como disse, só a uma pessoa é dado o talento de escrever assim. Machado de Assis é um velho conhecido de Rushdie. Neste livro que está sendo lançado aqui, há algo emprestado do autor e de Memórias póstumas de Brás Cubas. “No livro, o personagem está narrando sua história do túmulo, mas não vai contar como isso aconteceu porque é muito difícil de explicar”. Em Luka e o fogo da vida, há uma MTDTE (machine too difficult to explain).

Sobre cursos de escrita criativa, disse não acreditar. “Eles podem ensinar o ofício, a técnica ou moldar o talento, mas você não ensina as pessoas a olhar e a ouvir”. Ainda de acordo com ele, o que valoriza um escritor é sua visão única do mundo e sua relação com a língua. Colum McCann, formado numa dessas oficinas, é exceção, disse o escritor.

Rushdie falou ainda sobre política, religião e livros, mas sempre que era puxado para fora da literatura pedia para voltar. “A morte do livro é anunciada desde seu nascimento”, brinca. Para ele, o livro é uma poderosa tecnologia – pode ser lido na praia, no banho, não congela, pode ser derrubado que a informação continuará lá. “Uma coca-cola é suficiente para matar um computador. Se você a derruba no livro, tudo será como antes”, disse ao contar sobre quando destruiu seu Mac. Mas ele não é contrário à tecnologia. “Eu invejo o iPad do meu filho. É tão bonito!” Ele disse que os leitores digitais podem levar livros à leitores que talvez nem chegassem perto de uma livraria. Outra vantagem, segundo Rushdie: “dá para ler no carro sem enjoar!”

No fim de 2011 deve sair um livro de memórias de Rushdie.
[09/08/2010 00:00:00]