Dos objetos do cotidiano, os que têm valor de uso e valor de troca, a artista plástica Helena Carvalhosa constrói seus desobjetos. Nas mãos da artista, a utilidade de cada coisa cede espaço à beleza e ao prazer estético. Ócio (Terceiro Nome, 128 pp. R$ 44) reúne imagens das obras de Helena dos últimos 20 anos, que já passaram pelo Sesc Pompeia, Pinacoteca do Estado e galeria Aliança Francesa, em São Paulo, e galeria Arauco, em Nuremberg, Alemanha.

O livro traz, ainda, uma amostra da intimidade que há entre as diferentes artes: Helena verificou que os desobjetos que cria com matéria sólida e palpável encontram par nas imagens criadas com palavras pelo poeta Manoel de Barros e solicitou sua autorização para servir-se de alguns de seus versos em seu livro. Manoel de Barros lhe enviou a seguinte resposta: Campo Grande 19-4-2010 Helena Carvalhosa Prezada Achei seu ÓCIO belo. Chamo seus objetos de desobjetos porque eles são apenas belos, ARTE para ser usada pela sensibilidade. Para ser amada pelo ver. Para ser gostada. Cada objeto inaugural, como se um verso, uma tela inaugural. Abraço fraterno, Manoel de Barros

Sobre sua arte e essa afinidade eletiva, Helena afirma: “Não sei falar sobre o que faço, não tenho palavras, nem quero. Minha força vem de não saber. Mas os escritos de Manoel de Barros vieram de encontro a meus sentimentos e por aí fui me entendendo nas palavras dele e me sentindo abastecida”.

Ócio traz obras feitas a partir de objetos do cotidiano, que ganham novos e múltiplos significados e que provocam, ao mesmo tempo, reconhecimento e estranheza. Reconhecimento porque a origem desses objetos é o dia a dia, a existência ordinária. Estranheza porque a nova configuração a que a arte lhes submete os torna tão belos quanto dificilmente decifráveis.