Olhinhos puxados e mente rápida
PublishNews, Redação, 29/07/2009

Há um tempo, os chineses eram um misterioso povo de olhinhos puxados, pouco lembrados pelo ocidente no dia a dia. Hoje, porém, a realidade é outra. O espaço surpreendente que a China ganhou no mundo tem merecido a atenção para seu povo no mundo dos negócios e na sociedade. Os chineses passaram a ser vistos como um povo intrigante e que mexe com os alicerces do mundo. O regime é comunista, mas a economia é capitalista. Eles ficaram enclausurados durante os quase 30 anos de governo de Mao Tsé-tung e agora viajam pelo mundo todo e são os maiores usuários de internet do planeta. Todos estes antagonismos são abordados pela jornalista Cláudia Trevisan, que vive e trabalha na China, no novo livro da coleção Povos e Civilizações: Os chineses (Contexto, 336 pp., R$ 49,90). A obra terá noite de autógrafosno dia 30 de julho, na Livraria Cultura – Conj. Nacional (Av. Paulista, 2073 / lj 153 – São Paulo/SP. Tel.: 11 3170-4033), a partir das 18h30. A entrada é franca.

Perguntada se há uma maneira chinesa de existir que distingue esse universo de 1,3 bilhão do restante da humanidade, a resposta da autora é sim. “Afinal, se eu não acreditasse nisso, este livro não existiria”. Em 14 capítulos ela retrata desde os exóticos ingredientes da culinária chinesa aos segredos da medicina; da política de filho único até o papel da mulher na sociedade; da mudança de comportamento entre os jovens até os bastidores das Olimpíadas 2008. Esse livro, ricamente ilustrado, nos ajuda a compreender como é a cultura desse país que se tornou crucial nas transações econômicas e políticas do mundo. A China que era o reino das bicicletas até o fim dos anos 1990 hoje é o segundo maior mercado automobilístico do mundo, com a promessa de assumir o primeiro lugar do ranking este ano.

Mas não é só no campo industrial que aconteceram mudanças. A nova posição da mulher na sociedade contrasta com a de quando tinham seus pés mutilados. Hoje as chinesas são empresárias, cada vez mais fazem sexo antes do casamento e começam a abordar homens de uma maneira que seria inimaginável para suas mães. Ao mesmo tempo, o novo-riquismo reabilitou práticas que haviam sido extintas com a Revolução Comunista, como o concubinato. A instituição formalmente proibida, mas a possibilidade de ter várias amantes fora do casamento se transformou em um símbolo de status para os homens.

Muita coisa ainda é preservada no folclore chinês, que mistura superstição e tradição. A crença nos números é uma delas, o 13 chinês é o número quatro, no outro extremo o oito é o da sorte. Celulares com o final oito chegam a custar o triplo do preço, noivas esperam, felizes, pelo oitavo dia do oitavo mês do ano, mesmo que isso adie o casamento. Sob o signo do dragão, ano-novo em fevereiro, a língua sem alfabeto e a cerimônia do chá são outras curiosidades carregadas de crendices, que reforçam a riqueza cultural da China.

Um grande representante dessa cultura é o kung fu e seus heróis, que até hoje habitam as salas de cinema, como o filme O tigre e o dragão, baseado no livro do escritor chinês Wang Du Lu, vencedor de quatro Oscars. Cláudia cita também os grandes clássicos, a renovação literária, o teatro cantado ­– espetáculos que costumam mesclar música, poesia, dança, acrobacia e artes marciais ­– e a escrita como arte. “O caráter elaborado da escrita transformou a caligrafia em uma das manifestações artísticas mais antigas e tradicionais da China e dos países onde os caracteres chineses foram adotados, como Japão e Coréia”, lembra a autora. Templos e palácios de Pequim mantém painéis com inscrições feitas pelos próprios imperadores.
[29/07/2009 00:00:00]