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Na rede
Em busca da conexão perfeita
Artista francesa quer realizar leitura contínua, com 170 horas, de "Em Busca do Tempo Perdido", de Marcel Proust; 3.000 pessoas gravarão trechos com webcams
RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL
A versão curta da história foi
realizada em 1972, pelos humoristas ingleses do Monty
Python. Numa esquete para o
seu programa de TV, apresentaram o "All-England Summarize Proust Competition". Como o nome diz, os participantes dessa espécie de concurso
de calouros tinham que resumir os sete volumes da obra
maior de Marcel Proust (1871-1922), "Em Busca do Tempo
Perdido", em 15 segundos.
A versão longa deve ocorrer, se
tudo der certo, a partir do
meio-dia (em Greenwich) do
próximo dia 27, e pode se tornar o maior filme da história.
A artista francesa Véronique
Aubouy pretende distribuir as
milhares de páginas da obra
entre desejados 3.000 inscritos
no site do projeto (www.lebaiserdelamatrice.fr). Cada
um será informado da página
específica e do horário em que
deve fazer a leitura, e todos juntos, diante de suas webcams espalhadas ao redor do mundo,
comporão coletivamente um
filme de aproximadamente 170
horas, a ser transmitido no
mesmo endereço.
Até a manhã de ontem, já havia
881 pessoas inscritas, de todas
as partes do planeta -a leitura,
no entanto, terá que ser feita
sempre em francês. Do Brasil,
eram 34 inscritos.
Entre elas, o tradutor Sergio
Flaksman e o fotógrafo e advogado Eduardo Muylaert. Cada
participante pode escolher o local em que fará a leitura. Flaksman afirma que ainda não sabe
onde acontecerá a sua, já que
estará viajando pela Europa no
período de realização do filme.
"Onde estiver, ligo meu laptop
e leio", ele diz. Muylaert estará
no Brasil, mas diz que também
não pensou em um cenário específico. "Vou tentar encontrar
o lugar mais bacana na hora."
Muitos dos participantes dizem, em rápidos relatos para o
site da artista, que não leram a
obra completa. É o caso de
Muylaert e Flaksman. O tradutor afirma ter lido os dois primeiros volumes, "No Caminho
de Swann" e "À Sombra das Raparigas em Flor". Muylaert diz
não ser "um grande leitor de
Proust, como aliás a maioria
não é". "Ele é uma espécie de
ilustre semidesconhecido."
Ainda pairam dúvidas sobre a
viabilidade do projeto. Fazer a
reprodução completa de "Em
Busca do Tempo Perdido" parece ser tão difícil quanto resumir essa extensa obra sobre a
relação entre memória, imaginação e realidade em apenas 15
segundos.
Num outro projeto, chamado
"Proust lido", Aubouy vem registrando desde 1993 a mesma
obra do escritor francês. Já foram rodadas 77 horas de leitura
de 789 participantes. A artista
diz esperar concluir o trabalho
até 2050. Trata-se de um "compromisso para a vida toda", segundo ela.
No caso do projeto do próximo
dia 27, Muylaert diz ter recebido um email de Aubouy em que
ela pedia que os participantes
conseguissem novos voluntários, e questionava: "Será que
cada um de nós consegue mais
um [leitor]? Será que a utopia
vai virar realidade?".
Há poucas semanas, um encontro entre os participantes do
projeto foi marcado no mundo
virtual Second Life. Nem Flaksman nem Muylaert participaram (a reunião, de toda forma,
não era essencial para a organização da empreitada). "Para
mim, isso é moderno demais",
diz Muylaert. "Recebi o convite
para esse encontro nesse "outro
mundo", de realidade virtual,
que não freqüento", afirma
Flaksman.
Até o final da semana passada,
os participantes ainda não haviam recebido instruções sobre
horário e trecho a ser lido.
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