Samurai em grego, árabe e japonês
PublishNews, 05/09/2003
Ludovico - ou Ludo, como sua mãe, Sybilla, o chama - começou a aprender as primeiras letras e as primeiras operações matemáticas com dois anos. Aos quatro, Sybilla começou a ensinar-lhe o grego, que se seguiu ao italiano e ao francês. Aos seis anos, já dominava mais de 200 caracteres japoneses e, aos 11, fez a pergunta que o ligaria, a despeito de sua educação precoce e sua espantosa erudição, aos milhões de crianças nascidas de mãe solteira: "Quem é meu pai?" Esse é o grande trunfo de O último samurai (Rocco, 540 pp., R$ 59,50), da escritora norte-americana Helen DeWitt. Num estilo que muitas vezes, à primeira vista, pode parecer confuso, mas que traduz a efervescência das mentes de Sybilla e de Ludo, Helen DeWitt descreve o caminho que o menino faz para encontrar o pai. Há uma história curiosa sobre os bastidores da publicação original de O último samurai. Quando terminou o manuscrito, DeWitt visitou algumas editoras pequenas, que preferiram se abster do risco de publicar um livro que incluía grafia grega, árabe e japonesa, demonstrações aritméticas, fragmentos de roteiros de cinema e fotogramas da versão da obra de Kurosawa para o cinema americano, "Os sete magníficos". Porém, alguém da Chatto & Windus aceitou o livro, com a condição de ter a chance de "polir" o original. DeWitt aceitou, assinou o contrato e, uma vez autora da casa, defendeu com unhas e dentes seu livro até a última vírgula. Apenas uma coisa não se preservou do manuscrito original: os fotogramas, pois foi convencida de que as imagens perderiam em qualidade depois de impressas.
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