Imperfeições suíças
PublishNews, 15/01/2003
Um andarilho examina o Estado suíço, a começar pela maior cédula de dinheiro em circulação no mundo, a de mil francos suíços, da qual duas notas vêm parar em suas mãos - e apesar de todo seu empenho não consegue usá-las. Um antigo militante esquerdista não se conforma por não estar fichado nas engrenagens à prova de falhas da polícia helvética. Em certos meios isso não é bem-visto, o que o leva a querer macular sua identidade desagradavelmente limpa. Suíços constroem enormes diques para represar as águas de quatro grandes rios europeus cujas nascentes estão em seu território, e cujas águas acusam seus vizinhos de roubar. Em As formigas da estação Berna e outras ficções suíças (Estação Liberdade, 120 pp., R$ 21), de Bernard Comment, a bela e ordenada Suíça de repente vira um amontoado de angústias e alastram-se as situações absurdas. A narrativa curta e sarcástica de Comment leva o leitor a refletir se o pequeno país europeu, amálgama de perfeições extremadas, não seria um espelho invertido das manias e neuroses contemporâneas.