As lições que podemos levar da 3ª Conferência de Livreiros de Sharjah
PublishNews, Talita Facchini, 30/04/2024
Depois de dois dias de painéis e mesas redondas, o PublishNews reuniu algumas ideias e insights que podem ser úteis aos profissionais brasileiros

Steve Jones em mesa redonda na 3ª Conferência de Livreiros de Sharjah
Steve Jones em mesa redonda na 3ª Conferência de Livreiros de Sharjah

Repetindo pela terceira vez o formato de mesas redondas – idealizado por Emma House, consultora e especialista no mercado internacional de publicação – a 3ª edição da Conferência de Livreiros de Sharjah proporcionou aos editores, livreiros e distribuidores presentes a oportunidade de efetivamente sair com ideias concretas e melhorar o networking.

Ao todo, um dos salões do Expo Centre Sharjah recebeu 22 duas mesas redondas, além de painéis apresentando cases de sucesso e a programação paralela realizada pelo PublisHer.

Comandadas por profissionais do setor, as mesas tinham o objetivo lançar luz sobre os principais desafios que afetam atualmente as indústrias editoriais e de distribuição e tiveram quatro rodadas de conversa em dois dias para realizarem suas apresentações.

O que aprender com livrarias em centros comerciais, em festivais literários, como usar as redes sociais da melhor maneira, marketing visual – o que fazer e o que não fazer, como vender livros além das portas da livraria, como ampliar a voz da livraria usando inteligência artificial e como engajar comunidades de leitores foram alguns dos temas discutidos.

O PublishNews participou de algumas dessas mesas e reuniu os principais pontos que podem trazer ideias e fazer os profissionais brasileiros reverem alguns conceitos.

Marketing visual: o que fazer e o que não fazer

De todas as mesas redondas da conferência, a presidida por Steve Jones, gerente de mercadorias e marketing da Livraria Kinokuniya – rede japonesa e a maior livraria dos Emirados Árabes Unidos – foi a mais ouvida.

Com grande experiência no mercado livreiro, comprando, vendendo e administrando estoques, Steve apresentou uma lista de dicas e exemplos do que melhor funciona na Kinokuniya e pequenas estratégias que muitas vezes passam despercebidas aos olhos dos livreiros e que podem ajudar nas vendas. Aqui estão algumas delas:

  • O ponto principal é pensar quem é o seu cliente e quem você quer atrair. Não siga tendências, mas sim o que funciona para você
  • Manutenção: ter uma loja organizada e com uma iluminação que realmente funciona faz toda a diferença
  • Mude seus displays pelo menos uma vez por mês. Steve compartilhou que ao movimentar as obras dentro da loja, suas vendas aumentaram. “Se você mantiver sua loja sempre do mesmo jeito, terá sempre os mesmos problemas”. Para a estratégia funcionar, ele monitora o que está sendo vendido e, dependendo do resultado, muda os livros de lugar.
  • Best-sellers sempre no mesmo lugar. Mas é preciso observar que um best-seller hoje pode não ser um best-seller amanhã e vice-versa.
  • Pensar além: Quando um filme sobre um livro é lançado, por exemplo, procure pelo diretor, elenco, lugar onde o filme foi feito... assim você pode reunir livros relacionados indiretamente ao filme e vender ainda mais.
  • Técnicas básicas: ter áreas na loja onde os olhos podem "descansar" e se conectar com um item específico.
  • Exemplo: um banquinho com apenas um livro e uma decoração simples. Uma parede mais simples só com algumas obras de uma mesma coleção.
  • Básico: curadoria e storytelling. O cliente sabe quando você não sabe o que está fazendo.
  • Pirâmide: os designers sempre incorporam essa forma de estrutura nas suas lojas. É uma das mais agradáveis para os olhos e que mais converte em vendas.
  • Repita os livros na prateleira de maneira vertical.
  • Na repetição horizontal, use apenas dois exemplares iguais.
  • Steve compartilhou ainda que na Kinokuniya eles têm um grande panfleto no qual reúnem recomendações de livros em diferentes gêneros. A placa tem sempre a mesma identidade visual então os clientes já se acostumaram a olhar para ela e sabem o que vão encontrar.
  • Tenha uma prateleira só com recomendação dos livreiros
  • Mostre personalidade e procure inspiração em todos os lugares.

Livrarias e Festivais Literários

A mesa sobre livrarias e festivais literários foi comandada por Govind Deecee, editor da DC Books, uma das cinco maiores editoras na Índia, e curador do Kerala Literature Festival, o maior evento literário na Índia e Ásia. Usando o festival ao seu favor, ele impulsiona iniciativas de marketing não só para promover os livros, mas também para estreitar relações entre os autores e seus leitores.

Com diversos festivais literários acontecendo por todo o Brasil, é interessante ver se o movimento se repete mundo afora e como eles idealizam suas edições. A mesa de Govind procurou responder à pergunta: O que os festivais literários fazem mais do que livrarias e feiras do livro?

  • O Kerala Literature Festival, nasceu com o objetivo de fazer com que os autores tivessem mais visibilidade. Queriam chegar mais perto dos leitores.
  • O evento ocorre durante quatro dias. A última edição contou com 520 palestrantes e 500 mil visitantes
  • O festival não recebe ajuda financeira do governo indiano, mas ajudam de outras maneiras. Por exemplo, em sua primeira edição, o festival ocorreu na beira da praia, em uma área só de areia e sem estrutura. O governo então pavimentou todo o lugar e melhorou a estrutura local para fortalecer o evento.
  • Govind focou na premissa de que os festivais podem ampliar o alcance dos livros e engajar os leitores. Além disso, são uma plataforma para os autores.
  • Curiosidade: Com o crescimento do Kerala Literature Festival os políticos começaram a querer participar. Para resolver de uma maneira pacífica, os organizadores do evento colocaram os políticos para moderar os painéis. “O problema é só que eles muitas vezes fogem dos temas principais”, brincou Deecee.
  • A curadoria faz toda a diferença: uma curadoria bem pensada vai fazer autores e editores felizes com uma maior venda de livros.
  • É importante entender seu público e os nichos, porque engajar a comunidade e os alunos é o mais importante.
  • “A venda de livros está intrinsecamente ligada aos festivais literários”, frisa Govind.
  • “Nosso maior objetivo é expandir as barreiras para vender livros. A experiência é que vende livros”.

Ampliando a voz da livraria com a inteligência artificial

A mesa foi comandada por Fernando Pascual, fundador da primeira área de inteligência analítica no México. Atualmente, ele finaliza seu PhD com uma tese que explora a influência dos catálogos das livrarias no desenvolvimento de ecossistemas de inovação nas cidades.

  • Para Fernando, se comunicar com seu acervo é o melhor jeito de se comunicar com seus clientes
  • O objetivo é usar a inteligência artificial para achar padrões para tomar decisões
  • A IA não compila códigos, mas escreve
  • Os livreiros devem passar pelo desafio de como promover títulos que estão a mais tempo na loja e o bom uso da IA pode ajudar
  • Para isso, é preciso identificar padrões, fazer comparações com as informações a IA pode fornecer
  • Exemplo: Pedir para a IA compilar palavras mais usadas nas notícias da semana para escolher quais livros divulgar
  • “O chat não vai comandar sua livraria, mas pode te ajudar a tomar decisões”
  • A grande questão é treinar e para identificar como usar a tecnologia a seu favor. Ao compilar dados e construir um histórico com seus próprios resultados, é possível reverter isso em vendas na livraria.
[30/04/2024 10:00:00]