Millennials e Geração Z são maioria nas bibliotecas contemporâneas
PublishNews, Talita Facchini, 05/03/2024
Segundo pesquisas internacionais, o público jovem usa as bibliotecas em taxas mais altas do que as gerações mais velhas; o diferencial está no que mais as bibliotecas podem oferecer ao público além, claro, dos livros

Biblioteca Parque Villa-Lobos | © Equipe SP Leituras
Biblioteca Parque Villa-Lobos | © Equipe SP Leituras
Um relatório divulgado pela American Library Association (ALA) em novembro passado chamou a atenção ao revelar que os Millennials e a Geração Z – nascidos entre 1981 e 1995 e entre 1995 e 2010, respectivamente – estão usando as bibliotecas, tanto pessoalmente quanto digitalmente, em taxas mais altas do que as gerações mais velhas. O estudo também revela que os jovens estão ressignificando estes espaços e usando para outras atividades.

O que se viu é que os jovens procuram as bibliotecas para encontrar amigos, relaxar e se sentirem seguros. Além disso, há também a influência das redes sociais. No TikTok, por exemplo, é possível encontrar diversos vídeos com milhares de visualizações nos quais os jovens se arrumam para visitar as bibliotecas, mostram curiosidades e desmistificam a ideia de que estes espaços são locais sérios de silêncio completo.

Por aqui, a última edição da pesquisa Retratos da Leitura mostrou que as bibliotecas em geral apareceram como a terceira opção como local que as pessoas procuram para ler livros (15%). Além disso, os livros emprestados por bibliotecas escolares aparecem como a terceira maior forma de acesso a esses objetos, e os emprestados por bibliotecas públicas ou comunitárias, como a sétima opção.

Entre os estudantes, 37% dizem não frequentar bibliotecas. Entre não leitores o percentual é de 52%. Quando se analisa a idade, o público que mais visita as bibliotecas são crianças entre 5 e 10 anos e os jovens entre 14 e 17 anos, a chamada Geração Z. Jovens de 18 a 24 anos aparecem logo em seguida.

O diferencial para atrair as gerações mais novas está no que mais as bibliotecas podem oferecer. As Bibliotecas de São Paulo e Parque Villa-Lobos, por exemplo, geridas pela SP Leituras, passaram por mudanças estratégicas com o objetivo de se tornarem polos de inclusão e cultura e hoje contam com uma vasta gama de recursos para receber pessoas de todas as idades.

Segundo dados compartilhados com o PublishNews, 30% do público que frequenta a BSP durante a semana é composto por jovens de 16 a 20 anos. Na BVL, eles são 19%. Nos finais de semana, o dado se repete: jovens de 16 a 20 anos correspondem a 23% do público na BSP e 25% na BVL.

“A gente tem esse comportamento que sabemos que é diferente de muitas bibliotecas públicas. As bibliotecas contemporâneas no mundo todo se tornaram espaços de socialização. É um movimento que tem acontecido já desde o século passado e vem acelerando”, explica Pierre André Ruprecht, diretor executivo da SP Leituras.

Biblioteca Pública do Paraná | © Divulgação
Biblioteca Pública do Paraná | © Divulgação
De fato, a presença majoritária dos jovens em ambas as bibliotecas não é novidade. Ainda segundo os dados computados, em 2018 eles já eram maioria, representando 23% na BSP e 19% na BVL, percentual que ainda conseguiu apresentar aumento nos anos pós-pandemia. “Quando a BSP foi fundada em 2010, por exemplo, a ideia era justamente que ela fosse uma biblioteca que seguisse essa ideia de que a biblioteca é a mistura de uma sala de estar com uma oficina”, contou Pierre, que pontua: “A diferença nas nossas estatísticas é entre frequência de jovens e os empréstimos feitos por eles. Na frequência, sempre oscilando entre 50 e 60%, e quando vemos os empréstimos, falamos em uma média de 35%”.

"Vemos que os jovens vão fazer outras coisas na biblioteca, além de consultar o acervo. E que coisas são essas? Aí tem um mundo inteiro de opções", brinca Pierre. Saraus, luaus, oficinas, cursos, aulas, clubes de leitura, contações de histórias. A programação é diversa e não torna a procura dos jovens por esses espaços algo novo ou surpreendente.

Na BibliON, biblioteca digital gratuita de São Paulo, também sob gestão da SP Leituras, os números são parecidos. A porcentagem de sócios na faixa de idade dos 13 aos 18 anos está em torno de 57% e o numero de empréstimos, em torno de 50%.

Já na centenária Biblioteca Nacional, que apenas disponibiliza o acervo para consulta presencial ou por meio da BN Digital, os dados são um pouco diferentes. Em 2023, a maior parte dos visitantes presenciais que procuraram o acervo do local está entre 30 e 39 anos, seguido pelo grupo de 40 a 49.

No site institucional da BN durante o ano de 2022, no entanto, os jovens entre 18 e 24 anos foram maioria, somando 29,8% dos acessos, seguidos pelo grupo de 25 a 34 anos, com 26,34%.

"Sempre que posso frequento bibliotecas, e não é mesmo só pelos livros. É pelo espaço, pelas oficinas e pelos amigos. A gente gosta de ir para lá, um espaço mais calmo, só para passar o tempo”, conta Julia Moisés, que tem 20 anos e frequenta a Biblioteca Pública Municipal Antonio Modanesi, a antiga Biblioteca Rui Barbosa, em Indaiatuba (SP). "Se pudesse conhecer as famosas bibliotecas que temos por aí, iria muito pelo espaço em si, para conhecer e saber o que de diferente ela pode me oferecer", completa.

“Hoje você tem muita gente que vai à biblioteca porque gosta, porque acha a vista bacana, porque quer dar uma descansada, encontrar amigos... os usos são muito variados e, evidentemente a leitura é um deles”, conclui Pierre.

Tendências

Avaliando os jovens frequentadores das Bibliotecas de São Paulo e Villa-Lobos, Pierre Ruprecht enxerga uma tendência: o interesse crescente e diferente no gênero da poesia e em literaturas curtas. "É surpreendente isso, mas o público jovem é um público muito próximo da poesia. Porque de uns tempos pra cá a cultura urbana refez um laço com a poesia através dos slams e saraus. Houve todo um movimento de reconstrução da leitura da poesia e isso está se refletindo agora. Há um interesse diferente, sem dúvida nenhuma", valia ele.

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[05/03/2024 08:00:00]