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Discussões sobre sustentabilidade e agenda ESG ganham corpo no mercado editorial; veja dicas para sua empresa
PublishNews, Guilherme Sobota, 08/11/2023
Editoras e entidades do setor começam a dar a importância necessária para o assunto, embora debates e esclarecimentos ainda sejam necessários; Casa PublishNews na Flip 2023 será palco de painel sobre as iniciativas

Setor editorial e a agenda ESG, cada vez mais próximos? | © Freepik
Setor editorial e a agenda ESG, cada vez mais próximos? | © Freepik
Editoras, livrarias, empresas educacionais e outras organizações do mercado editorial, dentro e fora do Brasil, têm se preocupado cada vez mais com a agenda ESG – iniciativas recentes foram anunciadas por empresas no país, a International Publishers Association (IPA) lançou um painel virtual com exemplos semelhantes, e a discussão ocupa espaços em eventos e feiras, desde a Feira do Livro de Frankfurt até a Festa Literária Internacional de Paraty.

A Casa PublishNews na Flip 2023 vai discutir o assunto no dia 22 de novembro, às 16h10, no painel ESG no setor editorial: onde estamos, para onde precisamos ir – com Luciano Monteiro, Lizandra Magon, Gerson Ramos e Fernanda Cardoso Zimmerhansl. A sigla ESG se refere a questões ambientais, sociais e de governança.

“Vejo, com alegria, que editoras, livrarias, plataformas educacionais e empresas provedoras de soluções educativas têm se apropriado dessa discussão, dentro das suas múltiplas características, e buscado abordar os diferentes níveis do tema de forma cada vez mais atenciosa”, escreve Luciano Monteiro, diretor global de Comunicação e Sustentabilidade da Santillana e vice-presidente da Câmara Brasileira do Livro, em artigo no PublishNews nesta quarta-feira (8).

Em agosto deste ano, a Suzano anunciou um projeto-piloto para a neutralização da emissão de carbono de mais de 50 mil exemplares de livros das editoras Companhia das Letras, Record e Sextante. Para neutralizar as emissões, a Suzano disse que contou com apoio de uma consultoria especializada para mapear e calcular a pegada de todo o ciclo de vida dos livros, desde a plantação do eucalipto, matéria-prima para a produção do papel, até o descarte/reciclagem do material. Para a neutralização, serão utilizados créditos de carbono da Suzano, oriundos de projetos certificados e verificados por auditoria externa. A Companhia das Letras também celebrou, entre outros marcos no assunto, um estande sustentável na mais recente Bienal do Livro Rio.

Para o diretor comercial da Planeta do Brasil, Gerson Ramos, é exatamente no E da sigla ESG (que corresponde a Ambiental) que o desafio do setor editorial se torna mais explícito. Ramos falou com o PublishNews, e prometeu tocar nas feridas mais delicadas na conversa presencial do dia 22.

“Algumas ações demandam uma cadeia de processos que passam por todos os agentes do nosso segmento”, explica. “Se um só player adotar uma prática, pode ser prejudicado na competitividade, e, ao agir sozinho, não gera os impactos positivos desejados. Questões como o shrink dos livros (a película de plástico), o uso de embalagens de alto impacto ambiental e muitas outras precisam de um diálogo positivo e corajoso entre todas as partes, envolvendo as editoras, as distribuidoras e também o varejo (físico e online) para que a contribuição seja efetiva e duradoura”, aponta.

Ele concorda, porém, que o momento para a discussão é oportuno. “A duras penas aprendemos que a falta de transparência e descuido com elementos, que estão muito bem apresentados nos conceitos de ESG, contribuíram muito para os problemas que enfrentamos atingissem o tamanho que atingiram e com uma duração que comprometeu o crescimento do mercado”, analisa.

Para a editora Fernanda Cardoso Zimmerhansl, que se define como uma profissional em transição de carreira, na direção de desafios atrelados à sustentabilidade e a responsabilidade social corporativa, o tema ainda não está tão difundido entre as empresas editoriais brasileiras. “Mas noto que nos últimos anos o assunto está em ascensão. As discussões já são mais acaloradas e vemos alguns grupos editoriais, especialmente os multinacionais, publicando seus compromissos, metas e ações realizadas nos âmbitos social e ambiental”, aponta. “A sustentabilidade, o desenvolvimento sustentável, o ESG já são uma constante nas grandes feiras internacionais e nas entidades do livro e vêm se refletindo também na publicação de mais obras, não só em editoras especializadas, mas também em grandes grupos editoriais”, explica.

Lizandra Magon, diretora da Jandaíra e vice-presidente da Liga Brasileira de Editoras (Libre), aponta que a questão da diversidade vem sendo trabalhada nos catálogos. “Estamos ampliando as possibilidades de autoria, trazendo novos autores de minorias, ou não tão minorias assim, mas, enfim, pessoas não brancas, não héteros, não cisgênero, nos vários tipos de abordagens interseccionais, mas eu acho que isso ainda está aquém em termos de pessoas trabalhando nas editoras”, comenta.

Sobre a questão da governança, ela ainda vê uma dificuldade na parte das políticas das compras de livro e das questões de transparência nos editais. “Acho ainda que cidades pequenas têm uns processos estranhos de compra de livros, muito aquém do que seria necessário”, lamenta. “Então, acho que a gente pode falar na mesa, em termos de governança, sobre a questão das compras públicas por parte de pequenas prefeituras, e, às vezes, nem tão pequenas, e sobre alguns processos, tanto de seleção de livros como de compra”.

Em Frankfurt… dicas para pequenas editoras sobre sustentabilidade

Na última Feira do Livro de Frankfurt, o assunto também foi tema de discussões e debates. Em um deles, a diretora global de Sustentabilidade da Elsevier (na Holanda), Rachel Martin, deu algumas dicas para pequenas empresas e editoras sobre o assunto.

“Um primeiro passo para uma pequena editora pode ser simplesmente alguém ser o responsável por se interessar pelo assunto”, explicou. “Pode ser alguém que leia, se informe, busque alternativas e compartilhe essa paixão”.

“Coloca no site essa discussão. Passe a se comunicar sobre isso. Fale com os autores, com os fornecedores, com colegas editores”, exemplificou.

Para ela, o desafio é tornar a movimentação em direção ao desenvolvimento sustentável um processo mais fácil, menos acidentado.

“A cadeia logística vai ser um problema, mas claro, precisamos pensar de maneira mais ampla, a pequena empresa não pode exigir muito. Mas os fornecedores são seus parceiros de negócios. Por que não iniciar uma conversa?”, sugeriu.

Ela afirmou ainda estar em busca de parceiros internacionais. “Apesar do meu título, não tenho tanta segurança sobre o assunto, preciso de grandes ideias dos outros todos os dias”, comentou.

Sobre o aspecto financeiro da discussão, ela lembrou que engajar o CFO ou o setor comercial das empresas exige sim uma conversa delicada. “Mas é possível levantar os dados (sobre emissão de carbono, por exemplo) e construir insights que permitam começar a discussão, e aí pensar o que fazer”, disse. “Por enquanto, as mudanças geram economia – como economia de gastos de energia elétrica ou impressão de materiais, por exemplo. Mas em breve isso pode mudar, e a questão financeira vai aparecer”, salientou.

O que ela sabe e afirmou com certeza é que autores e consumidores estão se interessando cada vez mais pelo assunto.

Onde buscar mais informações?

A IPA preparou um painel vinculado aos “Sustainable Development Goals (SDGs)” da ONU, justamente para reunir informações de editoras e entidades da indústria do livro ao redor do mundo sobre essas questões. É possível acessá-lo aqui: https://sdg.internationalpublishers.org/.

[08/11/2023 11:10:00]
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