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Os androides somos nós
PublishNews, Paulo Tedesco, 20/07/2023
Os robôs trabalhadores da arte e da cultura pensarão a partir de ideias artísticas herdadas ou 'adquiridas' de meia dúzia de artistas e criadores, como vemos os desenvolvedores de memórias nos androides de 'Blade Runner'?

Seremos relegados a trabalhos nas pontas extremas da curva da cauda longa? | © 2017 Alcon Entertainment, LLC
Seremos relegados a trabalhos nas pontas extremas da curva da cauda longa? | © 2017 Alcon Entertainment, LLC

Deixei o debate rolar rezando para que um outro artigo que escrevi para o PublishNews se mostrasse absolutamente equivocado. Em outras palavras, torcia para que a discussão sobre inteligência artificial (IA) comprovasse seu lado positivo, e que fosse muito superior aos seus eventuais e nocivos efeitos colaterais...

E estava errado, tristemente errado, ruidosamente errado. A propaganda com IA em rede nacional com Elis Regina me jogou às cordas. Mas voltei. Reequilibrei-me e repensei: a IA é vital, indispensável, vai revolucionar o mundo, e haverá sim limitações, mas a ciência dará conta e a utilizará para o bem somente. Aliás, pensei que seu uso para fazer histórias e criar imagens poderia até, veja bem, proporcionar nova onda criativa, abrindo possibilidades artísticas e filosóficas. A Elis rediviva afinal não teria sido tão ruim, nem o carro também redivivo que o avatar dirigia...

De repente, e de onde jamais esperava, surgiu o golpe fatal: uma greve de artistas de Hollywood, que se somava a dos roteiristas já em curso, falando nos danos da IA. E o que pediam, o que diziam? Além de reajustes salariais e revisão acordos massacrantes com as grandes empresas, pediam simplesmente freios à IA (inteligência artificial)! Isso mesmo, freios ao uso indiscriminado de uma conquista da moderna tecnologia. Que ela não fosse usada para substituir atores, que não fosse usada para escrever roteiros e histórias, que fosse regulada e fiscalizada pelos sindicatos de artistas e roteiristas. Enfim, que ela não transformasse a gigantesca capital do cinema em uma fábrica de androides.

Pois os androides de Blade Runner, filme de Ridley Scott a partir da obra de Phillip K. Dick, – aqueles seres similares aos humanos, criados para trabalhar como escravos na exploração de outros planetas; seres mecânicos e de memória implantada, e que reivindicam mais tempo de vida para além de sua programada eliminação – podem vir a ser nós mesmos, os humanos artistas.

Seremos relegados a trabalhos nas pontas extremas da curva da cauda longa, cometas de passagem rápida no alto da curva ou seres obscuros e dependentes de nichos cada vez mais reclusos na ponta oposta mais esquecida da mesma curva. No meio de tudo estarão os robôs e a IA trabalhando vinte e quatro horas por dia e sete dias da semana (sem custos exceto a manutenção). Os robôs trabalhadores da arte e da cultura pensarão a partir de ideias artísticas herdadas ou “adquiridas” de meia dúzia de artistas e criadores, e dos obscuros da cauda dos nichos, exatamente como vemos os desenvolvedores de memórias para implante nos androides que bem aparecem na recente continuação do filme do mesmo diretor de Blade Runner.

Temos, no Brasil, uma boa lei como projeto (Orlando Silva – PCdoB/SP) para regulamentar as grandes empresas digitais, e sinalizar a demarcação do que pode e o que não pode na loucura do digital. E, pelo que sei, os direitos autorais estão nesse projeto, assim como a proteção a quem produz conteúdo nacional. Mas a classe artística precisa aprender com Hollywood, porque vem mais “chumbo grosso” por aí. Todo o dia é uma nova mídia, nova rede social, novo canal streaming, novo, novo, novo, e os lucros de quem de fato escreve, encena, dubla, dirige, edita? Seria correto retirar os direitos autorais (nas palavras da estrela de cinema Matt Damon) ou anulá-los como ocorre em muita série que assistimos? Admitamos, a guerra foi declarada.

Paulo Tedesco é escritor, editor e consultor em projetos editoriais. Desenvolveu o primeiro curso em EAD de Processos Editorais na PUCRS. Coordena o www.editoraconsultoreditorial.com (livraria, editora e cursos). É autor, entre outros, do Livros Um Guia para Autores pelo Consultor Editorial, prêmio AGES2015, categoria especial. Pode ser acompanhado pelo Facebook, BlueSky, Instagram e LinkedIn.

** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.

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