Diário de Frankfurt. Dia 1: Da lendária eficiência e organização alemãs ao taxista brigando no meio da rua
PublishNews, Leonardo Garzaro*, 19/10/2022
Leonardo Garzaro inicia seu diário de Frankfurt contando como foi chegar à cidade alemã e as primeiras impressões que teve

[Nota do editor: Depois de colaborar com o PublishNews escrevendo os diários de primeira viagem de Sharjah e Londres, Leonardo Garzaro completa o "tour" pelas principais feiras do mercado editorial e livreiro com a Feira do Livro de Frankfurt. Nos próximos dias, vocês acompanham as impressões do nosso marinheiro de primeira viagem em Frankfurt de 2022]

A vida toda escutei comentários sobre a eficiência e organização alemãs. A máquina alemã, como disse um professor de Geografia do Ensino Médio. No meu primeiro emprego, um colega afirmou que, na Alemanha, quem chegava cedo no emprego estacionava longe da entrada para ajudar os atrasados. Um amigo fez intercâmbio em Frankfurt e me enviava cartas nas quais contava, encantado, como as filas de banco eram rápidas e o transporte público eficiente.

Foi com estas imagens mentais que pousei no aeroporto de Frankfurt Hahn, para três dias de reuniões na Feira do Livro de Frankfurt. Não é a mesma cidade: a feira fica em Frankfurt am Main, mas eu não me preocupei. O Google me mostrou que a distância entre as cidades era de 125 km, e eu tinha certeza que haveria um trem ultrarrápido de levitação magnética ligando as cidades, ou metrô, ou uma esteira rolante, ou ônibus gratuitos a cada cinco minutos, no pior dos casos.

Tomei um susto quando descobri que o único jeito era um fretado, um tal de Flibco, que saia a cada duas horas. Pior, saiu atrasado! E conseguir informações não era nada simples: placas em alemão, funcionária falando um inglês capenga, motorista mal humorado. Nada diferente da ligação Campinas-São Paulo, para quem pousa em Viracopos.

Julguei que era um lapso: a Alemanha da qual sempre ouvi falar era outra. Porém, o Fliboco me abandonou há 15 minutos de caminhada do hotel, e o taxista não sabia qual era o lugar certo. Parou, perguntou no meio da rua, buzinaram para ele, que buzinou de volta. Paramos em três endereços até encontrar um hotel que nem é perto da feira, nem é conectado com o trem e o metrô (para quem acha que a cidade inteira tem metrô, praticamente uma estação por habitante, tem mais essa). O que mais? Bem, o ônibus não pode ser pago com bilhete, nem com cartão. É em dinheiro para o motorista, igual no Brasil dos anos 1990. A região do hotel não tinha casa de câmbio de dólar para euro. Um segundo taxista não tinha uma máquina de cartão de crédito. E a sinalização não é das melhores: estava procurando o metrô e fui parar no estacionamento de um mercado.

O primeiro dia em Frankfurt serviu para desconstrução de todas essas imagens de esplendor, organização impecável, eficiência absoluta. Sim, uma cidade limpa, conectada, bonita, mas com todos os problemas das grandes cidades.

Após chegar ao hotel, me troquei, fiquei descansando do perereco (quero encontrar alguém que traduza “perereco” para o inglês) e acompanhei as notícias da cerimônia de abertura. Acompanhei a cobertura digital da Talita Facchini sobre o discurso de Frank-Walter Steinmeier, presidente da Alemanha que junto com outros políticos inaugurou a 74ª edição da feira do livro e exaltou a cultura, os autores, a leitura, o livro. Assisti os discursos dos autores convidados, as homenagens. Lembrei que o hotel tinha, logo da entrada, um orgulhoso cartaz da feira. E, pesquisando, descobri que Frankfurt, além da casa de Goethe, da célebre escola de Frankfurt, de Adorno, de Walter Benjamin, recebe eventos culturais há 800 anos. Em números, estamos falando de uma área de mais de 500 mil metros quadrados dedicada ao livro. Quatro mil expositores. Certamente mais de cem mil visitantes.

Se a eficiência, organização, praticidade alemãs me pareceram supervalorizadas, a imagem cultural está no ponto certo. É incrível estar aqui e lutar pela literatura brasileira. E vamos à feira! Hora de divulgar a nossa literatura!

Römer, praça no centro histórico de Frankfurt
Römer, praça no centro histórico de Frankfurt



* Leonardo Garzaro é jornalista, escritor e editor da Rua do Sabão. À parte isso, tem em si todos os sonhos do mundo.

[19/10/2022 10:00:00]