Livreiros tentam antecipar como será a livraria do futuro
, Agência Brasil Que Lê, 16/10/2008

O livro não acabará. Porém, como será a livraria do futuro? Os livros impressos dividirão o espaço com outros formatos de conteúdo? Será que, em alguns anos, os consumidores irão à livraria e poderão ver o livro sendo impresso na hora? Já existem equipamentos que permitem a impressão de apenas uma cópia, uma ferramenta interessante para imprimir obras fora de catálogo, não? Jorge Yunes, presidente do Instituto Pró-Livro e da Abrelivros, acredita que há um crescimento do livro sob demanda. “Há máquinas digitais que fazem pequenas tiragens, até uma única cópia, algo impensável há algum tempo”, diz ele. Um exercício que algumas editoras têm feito no varejo, nesse sentido, é fazer um teste pré-lançamento. Imprime-se uma tiragem menor da obra antes dela chegar oficialmente às prateleiras das livrarias para sentir a demanda no ponto-de-venda. Assim, o risco da primeira tiragem – geralmente uma decisão no escuro – diminui.

Porém, ainda é muito difícil fazer um exercício de imaginação sobre como será a livraria do futuro. “Até porque acho que as livrarias físicas continuarão existindo com muito vigor. Mas considero inevitável que a tecnologia esteja presente nas livrarias. Editar um livro ou trecho de um livro, oferecer conteúdo digital, vender e-book reader, ter mídias alternativas ao papel. Tudo isso deve ocorrer. Em 10, 20 ou 30 anos. Difícil prever”, diz Samuel Seibel, dono da Livraria da Vila, empresa com lojas na Vila Madalena, nos Jardins e no Shopping Cidade Jardim, em São Paulo. Por enquanto, o mundo virtual pode ser um bom indicador da demanda que existe por um novo tipo de consumo. Mas a disputa por conteúdo digital não será circunscrita apenas às próprias livrarias e suas respectivas lojas online. Na indústria fonográfica, pelo menos, os gigantes da tecnologia mostraram-se dispostos a ter parte desse mercado.

No mercado editorial, principalmente dos Estados Unidos, os grupos do Vale do Silício não têm medido esforços para se tornarem líder numa categoria de produto ainda em formação. O Google, cujo projeto de digitalização de livros causa controvérsias, competia até o início do ano com a Microsoft, que investia no projeto Open Content Alliance (algo como Aliança por um Conteúdo Livre). Porém, em maio, a companhia fundada por Bill Gates anunciou sua saída do projeto, deixando o Google se tornar a maior corporação de digitalização de obras da atualidade. Os aparelhos para a leitura de livros digitais – espécies de iPod do livro – também têm provocado outra batalha mundial entre duas gigantes, a Sony e a Amazon.com. As duas já lançaram seus produtos, o Sony Reader e o Kindle, por US$ 299,99 e US$ 359, respectivamente. Ambas desenvolveram parcerias com editoras para oferecer conteúdo a seus consumidores. A loja da Amazon.com, por exemplo, tem nada menos do que 125 mil títulos disponíveis a seus usuários. Em uma entrevista para a revista semanal inglesa The Economist, Jeff Bezos, o fundador e executivo chefe da Amazon, afirma que a loja de livros virtuais já responde por 6% das vendas de livros (receita total do catálogo impresso e digital) da empresa.

Nenhuma das duas companhias revela números de vendas do novo aparelho. Mas é provável que a popularização do ebook reader ainda demore algum tempo para acontecer, principalmente por causa do preço. “É um produto muito incipiente, ainda em teste”, afirma Sergio Herz, diretor de operações da Livraria Cultura, que esteve recentemente nos Estados Unidos. As vendas de livros digitais crescem rapidamente, mas ainda são ínfimas. Em 2002, foram comercializados US$ 5,8 milhões no segmento. E, em 2007, saltaram para US$ 31,8 milhões no mercado americano. O consumidor ainda não vê uma utilidade prática o bastante para comprar tais produtos. Um livro é bem mais em conta e é tão portátil quanto um aparelho daquele tipo.

A indústria tem observado outras iniciativas nessa área também. A Palm, por exemplo, criou uma loja virtual com mais de 37 mil obras disponíveis para os usuários do aparelho. A tradicional Harper-Collins já oferece seu conteúdo para a Palm desde 2001 e, há dois anos, fechou um acordo com a Apple, para os usuários do celular iPhone. Em agosto deste ano, foi a vez do Lonely Planet fechar um acordo para oferecer seu conteúdo no projeto de mapas da Nokia. Enquanto isso, no Japão, há uma tendência de consumir novelas pelo celular. O novo mercado de download pulou de uma receita nula há cinco anos para quase US$ 80 milhões em 2007 no país oriental.

As novas mídias, no entanto, estão longe de estragar o bom momento em que vivem as livrarias brasileiras. Uma somatória de economia em crescimento, maior distribuição de renda, a isenção fiscal na cadeia do livro e uma maior profissionalização do setor têm levado mais pessoas para dentro dessas lojas – cujo investimento em expansão nunca foi tão grande. Seibel imagina ainda outra situação. “Outro fenômeno pode ocorrer. Na contramão da história e invertendo tendências, pode haver uma nova onda de revalorização dos espaços das livrarias como são hoje. E as livrarias do futuro, de repente, serão bem parecidas com as de agora. Por que não? É futuro mesmo”, diz. Nada impede que uma onda “retrô” ocorra. Aliás, as vendas dos antigos discos de vinil, os “bolachões” dos anos 50 a 70, não voltaram a crescer no mercado musical neste ano?
[16/10/2008 00:00:00]